28 de julho de 2013

Afinal é só o vento lá fora!

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Inverno. Sua estação favorita. A moça pegou seu livro de crônicas e sentou no canto da sala. Seu moletom verde a esquentava e suas pantufas a faziam lembrar da infância. Dois grandes olhos saltavam do seu par de calçados. O gato Felix sempre fora um dos seus personagens favoritos. Ela folheava seu livro, com os olhos atentos. Vez ou outra, remexia os óculos. Os ajeitava na ponta do nariz. Quando terminava de ler uma página, olhava para seu gato cinza que brincava com um novelo de lã. Terminou de ler meio livro. Prestou atenção no som do rádio. Ouviu comentarem sobre uma possível nevasca na manhã seguinte e suspirou. Guardou seu livro numa gaveta e pensou sobre a proposta de sua mãe. Ela gostava da neve, do frio, mas realmente se sentia sozinha. Toda noite gelada pensava que poderia estar num lugar melhor... Balançou a cabeça, afastando os pensamentos. Se sentou em frente à lareira. Não iria mudar. Era isso que ela queria, era a garota que gostava do frio quem ela era. E isso nem sua solidão mudaria. Tudo passa. O vento passa, a neve derrete, a chuva não cai. E esse sentimento de estar sempre sozinha algum dia vai sumir também...

17 de julho de 2013

Você me faz idiota, cara

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 O volume estava no máximo e eu pulava pelo quarto com Frederico no colo, bagunçava o lençol, derrubava coisas da minha penteadeira, desarrumava tudo que tinha organizado no dia anterior...
 - Você tá realmente ouvindo Papa Roach? - o volume foi diminuído.
 - Esperava o que? Que eu estivesse ouvindo One Direction? - encarei o cara que me encarava no batente da porta.
 - Mas você realmente ouve One Direction. - Austin me deu um sorriso de canto.
 - Que seja! - balancei a cabeça.
 Um breve silêncio. Ele olhou para o chão e voltou à me olhar.
 - Ei, tem uma gangue na sua porta querendo te comer viva. - Austin parou por um tempo e gargalhou, revirei os olhos - No bom sentido, claro.
 - Por quê?
 - Por quê? Você tem uma noção do volume que estava seu som? Eu entrei aqui e quase fiquei surdo!
 - Deixa de ser exagerado, Faraday.
 - Não tô exagerando. Tava alto pra caralho e você ainda estava ouvindo punk rock! - ele arregalou os olhos e eu ri - Do que tá rindo?
 - Você fica engraçado assim.  - fiz minha melhor cara de pastel e ele gargalhou também.
 Sabe, era foda não rir com o Faraday. Canalhas tem uma maldita mania de ter a risada mais gostosa do Mundo! Faz você ter vontade de acompanhar ele. Logo estávamos os dois gargalhando. E se você me perguntar do que, não, eu não saberei lhe responder. Talvez da nossa cara de babacas. Mas é que... Porra, estamos falando de Austin Faraday, e você sabe... Ultimamente até a porcaria do sorriso dele já tem me feito feliz.

12 de maio de 2013

Por vezes era feliz...

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 Tchuc, tchuc, tchuc, tchuc. Risos. A garotinha jogou sua cabeça para trás e seus cabelos castanhos esvoaçarem-se. Quem via de longe, diria que estava a ter uma visagem. Parecia cena de filme: uma colina, margaridas por todas as partes e uma criança feliz brincando no seu topo. Algumas borboletas voavam em grupos, enfeitando o céu tão azul. Uma menina boba com sua boneca em mãos, a gargalhada contagiante e a inocência de uma criança. Uma mente pura que poderia salvar o Mundo. Por vezes, levantava seu brinquedo ao alto para imaginar que voava. Por outras, pegava seu urso rosa e o fazia assustar a boneca. Entortava os lábios miúdos e deixava seus personagens se desculparem. Não gostava de desentendimentos, mesmo que apenas em sua brincadeira. Ao seu lado, ainda existiam folhas e alguns lápis de cera, vários arco íris estampavam seus papéis. A garotinha era uma bela exceção da crueldade que se encontrava no século XXI: ela ainda acreditava na felicidade e em toda a magia que poderia existir. Por favor que a deixassem assim. Enquanto pudesse fugir da realidade que o fizesse, quando crescesse, veria que perdeu sua paz...

24 de abril de 2013

O cara de Walking Disaster

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Era apenas uma quinta chuvosa em que eu voltava pra casa depois do trabalho. Um outono que possuía uma brisa gelada de inverno, meu casaco que não me aquecia tanto quanto deveria e a evidência de que o inverno seria assustador aparecia em pequenos flocos de neve. Como em todas as vezes, andei até uma parada qualquer de ônibus que me levasse até o centro de Manhattan. Tinha mais alguém naquele ponto. Parecia ansiar pela sua casa tanto quanto eu, ansiar pela sua cama e uma boa xícara de chocolate quente ou café expresso... Nunca se sabe o gosto das pessoas. Me sentei ao seu lado no banco úmido, o local em que estávamos era coberto apenas por um telhado improvisado. O silêncio era bom. Pouquíssimo tempo depois,  consegui decifrar que o cara sentado ao meu lado era um amante da boa música: Walking Disaster, do SUM 41 tocava alto em seu fone de ouvido. Sorri. Ele me olhou de relance, ainda com o capuz do seu moletom cobrindo parte de seu rosto e retribuiu meu sorriso. Tirou um dos fones e me ofereceu, mesmo sem graça, aceitei. Depois de um tempo, o que nos levaria pra casa chegou. Ele pediu meu número e disse que me ligaria mais tarde. Agora são oito da noite e eu tô grudada no celular, esperando o maldito telefonema que eu sei que não vai chegar.

28 de março de 2013

Garota que veio com a noite

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A garota calçou seus sapatos de salto, passou seu batom vermelho e deu uma última pincelada de blush em seu rosto. Encarou sua imagem no espelho e sorriu satisfeita. Pegou seu casaco que estava jogado em cima da cama e o vestiu, saiu porta afora. O vento frio da noite cortou seu caminho, fazendo-a se esgueirar, como se pudesse evitar o contato. Encarou o céu preto, sem estrelas e se viu perdida naquela imensidão sem fim: não tinha um rumo, um destino... Apenas alguns trocados e uma bela aparência. A brisa forte bateu em seu rosto e em seus longos cabelos, os fazendo se agitarem como as ondas do mar. Estas, que ela conseguia ouvir ao longe, se quebrando na beirada da praia. Sem um caminho certo a seguir, ela retomou sua consciência e foi em frente. Sem medo do destino, sem medo do escuro, sem medo do que poderia encontrar na sua caminhada...